segunda-feira, 10 de setembro de 2012

MARCELO NOVAES

Impessoal












Compromisso com a palavra,
ele sabe, agora, é cartaz jogado ao
chão, enquanto se espera a morte
de pai, mãe, tio.


Sentado em banco sem encosto,
ele parece invisível, embora medido
por crivo impessoal. Chama-se a isto:
anonimato.


Ouve os outros vaticinando
O Choque, a contragosto: a
Chegada de Ahasverus com
Olhos de Neón: Nibiru, Har
Megiddo, Harmagedōn.


Por estar quieto, pensam-no
passivo. Por estar calado,
pensam-no sem ouvidos,
ou desconhecedor dos
fatos.


Nada mais distante do
correto.


Ele não dirá que seu coração
pega fogo. Não dirá que o sangue
é límpido, quando escoado ou
escolhido.


Não fará sequer uma Ode a
Dioniso ou seus prepostos.
Também não mencionará
Apolo ou o Dístico de
Delfos.


Não invocará para si a força
de qualquer instinto. Não entornará
os signos, a título de Vulto. Não
proclamará impropérios,
nem se regozijará com
¡Exclamações ao
Avesso¡


Não dissertará sobre as tantas
beberagens e seus efeitos. Nem
proclamará a pele como único
rito.


Não vocalizará as vísceras,
nem citará Zaratustra ou
Cítaras.


Não se contará entre os Felizes.


Não se imaginará navegando
águas diversas, inauditas. Não
se dirá poeta.


Atravessará a estanqueidade das
coisas, pressupostas ou presumidas.


E nos olhos, residirá sua casa.


Levantado do banco sem encosto,
mal se aperceberão do ocorrido,
enquanto ainda discutirão O
Choque, a contragosto.


Pai, mãe e tio já estarão mortos.

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