terça-feira, 29 de março de 2011

SE EU TE FIZER UM POEMA

Se eu te fizer um poema você sabera que é meu. Não pelo rigor formal, esse é João Cabral de Melo Neto. E você sabe, não sou tanto.
Se eu te fizer um poema você saberá que ele não foi escrito por Pessoa, não sou tanto.
Se eu te escrever um poema você não confundirá com o da Hilda, nem Castro Alves, nem Rimbaud, nem Maiakovsk, nem Boudelaire ou Camões. Por serem muito melhores, por eu ser muito, infinitamente, menor, e eles maiores.

Então porque te faria um poema?
Porque eles morreram, o amor não morre.
Por um desejo de mostrar o que dói.
Por precisar não de sua admiração,
mas de teu sorriso; de te comover.

Deixa eu te fazer um poema.
Terá erros de gramática, não terá imagens geniais, nem construções complexas de linguagem e sentido. Mas terá meu pai, meu filho, terá sangue. Terá sentimento. Não que os outros não tivessem; tiveram e expressaram mil vezes melhor que eu. Mas sentir só sentiram o tanto, não pode ser mais, ninguém sente mais.
Das coisas todas que me acusarem no juízo final, são tantas, há de haver um indulto, ou quem sabe o total perdão. Porque muito foi feito com amor, muito.

Quando eu me for, diferente da poeta, não se vai nada infinito, nem deixará uma falta no mundo. Duas ou três pessoas chorarão, e a nada demais mudará nem em meu bairro. Talvez não liguem o som em alto volume, mas não por respeito ou vontade, por uma tradição de achar que mortos tem estados de tristeza ou felicidade.

Mas se as pontes tiverem sentimentos (as de Recife) ficarão tristes. Porque ninguém mais vai olhar para elas de madrugada, com os olhos marejados, com amor por elas.
O vasco perdará um torcedor e mesmo que não saiba, farei falta ao vasco. Porque sei que ele não é o melhor e não discuto por isto. Mas é meu vasco, que já foi cinzeiro, bolo, camisa, agora é coração.

Bom, só as pontes lamentarão?

Que seja, para que diabos vou querer lamentos?

Que coisa fúnebre!

Ser feliz ou ter razão?

Eis a resposta:


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