sexta-feira, 26 de junho de 2015

67 ANOS!





Há que se guardar o tempo, que se olhar no espelho que é ele.
Há que se dizer que dele tenho guardado comigo (menos guardado que entranhado) o manuseio das cartas, seu cheiro, seu olhar.

Há que se medir por ele (não para ser-lhe igual) mas para saber do jogo, da poesia, das mulheres. das medidas certas em que põe tudo e das exatas maneiras de se viver, de ser homem.

Há de ter orgulho (mais que isso, sorte) em ser seu filho.

Há de se fazer feliz por ele estar feliz, lépido, cheio dele mesmo (que amor, chatisse e mais amor)

Pelo amor devotado, pelo perdão, por seus 67, pelos 40 que me atura, por sua braveza que é quase doçura, por me ensinar o que não sei fazer me mostrando o que por não poder aprender, nunca devo tentar (jogar).

Por tantas coisas que eu guardo comigo (e aqui é guardado mesmo, como que em caixinhas) e que são tão profundamente queridas, que as guardo não pelo que me trazem ou são, mas pela dor que causariam se ausentes. O que aprendi de ti, pai, foi que você não me causa medo pelos gritos, pelo quase medo que causa nos que o amam. O assustador de tua voz tonitruante e imperativa não é nada, absolutamente nada, comparado ao teu silêncio.

Nada é tão bom ou completo que dispense teu beijo e eu poder te chamar de pai, e te pedir a benção.


PARABÉNS!

sexta-feira, 19 de junho de 2015

ANIVERSÁRIO




Não tenho nostalgia de nada, menos ainda de mim, porque me habito, porque não cheguei ao fim.
Estou acostumado a não fazer sonetos, só busco o que posso e sei de meus limites.

O tempo passa e isso é uma descoberta, achei que eu seria eterno, até um dia desses. O tempo vem me jogar na cara a minha estrada no meio (sou um otimista, me ponho quatro anos à frente do IBGE). a minha estrada que  já não é longa o tanto que era a uma hora. Mas viver não é isso? encurtar estradas.
O quê diabos teria isso haver com mega hair eu não sei, mas eu não sei de nada, apenas desconfio de muita coisa, como o Riobaldo, de Guimarães Rosa.
O mega hair é um cabelo postiço preso por sabe Deus o que lá aos cabelos de quem os ponha, minha irmã os porá hoje. Eu não firmei opinião sobre o mega hair, mas ainda assim ela os poria se eu fosse contra. O absurdo de envelhecer é que você não controla. Você envelhece, você envelhece. Isso é de uma estranheza absurda! Estranheza, não tristeza. Envelhecem os vivos, envelhece quem ainda pode envelhecer. Semana que vem será meu pai e logo um pouco mais eu chego aos 40 anos. Eu não sei porque estou escrevendo isso. Quis fazer uma coisa não sentimental e isenta e, sobretudo, com bom humor, pois sempre falo de coisas chorosas.
Minha irmã, que faz hoje aniversário, tem muito mais afinidades com meu pai, que dela é muito próximo em aniversário e em tudo mais e eu começo a achar que só escrevo algo razoável quando sou brega e que esse texto está enfadonho mais que o natural.

Mas não vou apelar, fica meus parabéns, fica um beijo, sem mais nada. Fica cumprir o resto da estrada, fica nossa irmandade acima de tudo, fica tudo. Fica o que não se acaba com o que se acaba enquanto ainda formos, fica mais que o gostar de alguém, querer que ela fique bem. Fica a nossa religião de dois seguidores (essa será semana que vem celebrada). Fica nossa infância, brigas, choros. Fica muita coisa, que sendo pouco aos outros, é tudo nessa família quase sem parentes. Ficam os anos que passaram, ficarão os que virão. Ficam palavras que não são nada se ditas pela razão diversa das que escrevo agora. Fica a lágrima não chorada, guardada, contida, represada, com que escrevo isto. Fica minha certeza de ter para contigo uma dívida. Um dívida não pagável e que não existe para ser tal. Dívida que por não ser paga é mais devido chamar de outra coisa, de chamar de gratidão.  


PARABÉNS!

sexta-feira, 12 de junho de 2015

A tristeza





Sempre me comove a tristeza contida na música de Caetano, no dia chuvoso, e em outras coisas e pessoas. A minha tristeza é quase alegria, ou se não isso é outra coisa da qual não conheço o nome ou essência. Minha tristeza não é carência. Minha tristeza não é piedosa, nem para mim nem para ninguém ou nada. Minha tristeza é minha casa. Onde me abrigo, onde me refaço. Em tempos em que se almeja tanto a felicidade, ou pior que isso, a felicidade eterna, eu me comprazo em minha tristeza. Que é minha e por isso (e só isso basta para ser querida) me vem com quase-alegria à sua chegada. Minha tristeza não é mesquinha, e isso é o que me mais me orgulha em tê-la comigo. Não é por nenhuma inveja do que não sou ou do que não posso, é por que existe o alto e o baixo, a curva na ladeira, o gelo no asfalto, o medo de morrer e o medo de viver demais. Nunca pude entender porque se busca sempre a alegria e se diz que tudo que se quer é ser feliz. Como se pode ser feliz sem tristeza? Quem pode estar feliz o tempo todo sem ser idiota? 

Minha tristeza é como eu olhar para uma cachoeira, linda de manhã, alegre, expansiva, mas que á tarde se fará triste, e sua alegria da manhã advém de sua tristeza vespertina e vice-versa.
Não se vive sorrindo sem ser ator ou ter por ideologia a hipocrisia. Tudo arde, chora, causa dor: o menino que morre, o menino que matou, o agredido, o agressor, a menina inocente, o velho senil, tudo é dor. 

Não esqueço de uma frase do baiano genial que diz: "respeito muito minhas lágrimas, mas ainda mais minha risada". Na risada tem ainda uma lágrima, tenha sempre um pulsar do triste. O que me apavora é não ser sempre alegre, é ser sempre triste. Se há coisa pior que o bobo alegre é o chato triste. Tristeza é como tempero, deve ter em quantidade medida, em quantidade certa para que não estrague a comida. Para ser-se feliz por completo, sabendo-se que nunca se pode ser feliz por completo. Aceitar o que se tem sem o resignado dos covardes. 

Salve a tristeza, sente aqui, puxe a cadeira e vamos conversar, mas saibas que não és minha amiga, és só visita, não te hospedo, não tens (aqui comigo) onde ficar.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

O nada.




Eu tive um sonho  há pouco que foi tão poesia que tentar contá-lo o diminuiria, reduzindo a sonho o que sonho seria se não fosse mais, se não fosse o que queria, todo sonho que mereceria o nome de sonho ou de poesia.

Eu tive, e tanto era lindo, que santo diria, mas não era isso, era até profano, por não ter pecado por ser mais que humano, por eu entender que era o que entendia não caber no homem, não caber em nada.

Eu tive (e pouco me importa se esta errado) ter -se sonho ou haver sonhado, ter se sentido certo, ter sempre eu errado, ou o que é real e o que foi sonhado, ou menos o pecado ou mais o perdão.


Se explicar não posso, quem o poderia? se sonhasse um sonho que foi fantasia, nada de irreal, nada que conteria um outro nada em si e por isso era tanto que a palavra nada tudo definia, como se verdade última da poesia, como se única verdade houvera, como se descoberta a nova era, como se descobrisse o véu primeiro, como se segredo não mais houvesse, como se tudo ao nada reduzira, e o nada fosse a melhor saída, e  era melhor por ser a única, e era bom e eu o sabia em sonho, e eu o via em graça, o tendo profundo, o tendo em tal monta que para mim nada mais me vale, nada mais me serve, nada mais eu busco do que aquele nada. 

terça-feira, 2 de junho de 2015


Um esquerdista





Para assumir discurso de esquerda não basta ser idiota, tampouco ladrão, ou qualquer tendência homicida enrustida ou pederastia latente (todo esquerdista cultua um macho soberano e sempre barbado) tem de ser um pouco de cada abominação humana revestida e travestida numa conversa de bondade humana, continuação da história (como um filme idiota que segue a trama de penar, purificar-se e elevar-se, ainda que isso demande a cabeça de centenas de outros seres humanos.



CURSO TRADER ESPORTIVO

sábado, 30 de maio de 2015

Ester






Já nasce com nome de rainha, nascesse com nome plebeu seria rainha também.  A filhinha de Lu! lindinha e gigante. Se chama Ester. Eu lhe disse Luluzinha, que realizaríamos nosso sonho, eu me curaria do Parkinson, você teria os filhos que queria. Não me curei do parkinson e irei para a 2ª cirurgia, mas não terminamos o sonho ainda. Você quer mais filhos, eu mais brocas e bisturi. A vida é conseguir armas pra se lutar até o fim. A vida urge em se esvair. Ester é linda e eu não acho crianças bonitas, achou-as iguais, todas se parecem. Mas Ester é linda porque sonhada, porque querida, porque é signo de sonho, porque é vida com mais vida.

Falta a minha cirurgia e outras que farei. Tenho paciência e redobro a fé, vendo Ester, tão real e linda, feita de lágrimas e devoção. Anota ai, amiga adorada, anota em teu coração, o que eu te devo não pago com nada, ou pago vendo teu sonho na mão. Te cuida e cuida de Ester. Cuida em ela não cair, não se machucar, em proteger, em amamentar. Cuida do exterior e do ao redor dela, porque do caráter a genética cuidará.

Cuida de manter fé, cuida em se cuidar, cuida ser como és, cuida em nunca mudar.

Cuida de dizer ao pai que mando-o um grande abraço, cuida em dar um beijo em nega,  cuida de descansar, cuida do que sempre cuidaste, cuida em nossa amizade, cuida em tua obrigação que é sempre rezar por mim.

Dá um beijo nela, diz que foi um tio doido que mandou. Da uma olhada para o céu e se aguentar não chora; Sobe o morro com minha irmã como quem vai ao parque. Sabe porquê, Luluzinha? porque na busca de Deus, agradecer é a melhor parte.


Beijos no coração. Mamãe.



CLIQUE AQUI!

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Sem mágoa, sem melancolia





Sabia de há tempos, e por isso disse a minha amiga:  Desde o começo eu sabia do fim, desde o nascer diminuem os dias.
Ela então quis saber o que eu faria se chegasse ao fim do dia com o fim da minha vida. Disse-lhe: daria uma abraço em meu filho e um beijo em meu pai. 
Mas não falava triste, não tinha medo ou melancolia, falava como se outro que estivesse de fora, outro que sendo eu, a mim mesmo não sentia, como que estando lúcido não sentia a cirurgia. Sem dor,  sem melancolia.

Eu dizia que no abraço e no beijo não haveria tristeza, seria um "valeu" não um "que pena, acabou", uma missão encerrada, não uma que fracassou. 


Disse ainda que não consigo ser triste o tempo todo, sequer um tempo longo. Sou da alegria, da folia. Só sei viver assim, amar o sol. todo dia, de noite a lua.  Quando nem um nem outro se fizer notar, por nublado, por não poder vê-lo, sigo na minha alegria. Que sendo escura é ainda folia, que sendo folia tem de acabar como um m carnaval: sem mágoa, sem melancolia.