sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Minha tristeza






Tem coisas que se começam e outras natimortas; coisas feita de coisa que a palavra não alcança. A palavra não alcança a essência, o que temos de bom ou de ruim. Eu não explico porque também não sei e creio que poucos sabem. Eu não sei da razão das dores, dos ruídos medonhos, das crianças com fome e frio e o que pensam. Eu não sei de seus pais, como sentem a pele e o coração bater, se se sentem homens não parte da coisa que não sei o nome. Eu me sinto mudo para as fortes visões de paraíso, da espera de encontrar lugar melhor e se isso não é um consolo bobo. Toda noite eu durmo e tenho paz e nem penso em morte, mas ela vem tão devagar e discreta... Dir-se-ia que nem tem pressa. 

A dor que dói mais não é a minha nem a sua, é a dos meninos dos sinais, das garotas de programa, dos travestis, dos drogados. Porque sabem das mesquinharias dos outros e não encontram ombro e só encontram zombaria. A zombaria é feia, o escárnio é feio. Certa vez saí da casa de meu cunhado (era ainda casado) e passei por um grupo de adolescentes que começaram a rir de mim, do modo como como eu andava e de minha rigidez muscular causado pelo parkinson. E riam alto e diziam coisas como: anda direito, robocop, anda direito. Cheguei em casa, contei a minha então mulher e ela chorou e me perguntou como me senti na hora. Não senti nada. Nem raiva ou qualquer coisa parecida com isso. Eu tenho desprezo por quem se despreza. Eu tenho asco de quem de si se apieda. Minha tristeza está nas coisas dos meninos nos sinais. Minha tristeza está quando batem em uma prostituta. Quando xingam um travesti, quando um pai nega o filho. Minha tristeza está nas coisas que realmente doem, e olha, conheço hospitais, sei o que é estar com medo e só. Minha tristeza eu guardo para o dia em que eu beijar meu filho pela última vez. Mas ainda assim não será tristeza. Minha tristeza eu guardo para as coisas que são tristes. Choro tanto e por tudo que não resta lágrima pra mim. Só sei ser alegre, não sei ser triste, ontem, hoje, até meu fim.

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