quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

MEU GATO PERSA





Eu tenho um devoção pela poesia cabralina, um venerar como se  pode venerar quem não comporta veneração. João Cabral De Melo Neto, para mim o maior, embora isso não passe de opinião de devoto. João não me ensinou a escrever poesia, ao contrário, me distanciou do sonho de fazer poemas. Se não me mostrou como fazer, me mostrou como não fazer, e a isso sou grato. Comovidamente grato. Me ensinou que sofisticação nada tem de assunto ou coisa ou ser. Que antes de ser poeta tem de saber que poeta é mais uma sina que um dom. As coisas não são o que aparecem quando olhamos. As coisas aparentes são a anti-poesia, a coisa disfarçada do que é para esconder sua essência. Por isto, e só por isto, em tu vejo um gato persa. Se queres discutir se és ou não é indiferente, por razões cabralinas, as únicas que são razões puras, por absurdas, por inverossímeis. Se tu não és um gato persa, o gato persa não existe. Mas gatos persas existem, logo tu és um. Em tudo lembras ele, tanto quanto ele não pode ser parecido com si. Não me venha com razão, com coisas de lógica ou sentido. És meu gato persa e fim. Cabral, no "ferrageiro de carmona" solta essa bomba de beleza: "não até uma flor já sabida, mas se chega a ser flor, se flor  for a quem o diga" ès meu gato persa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário