EU E ELE

FICAMOS SÓS, EU E ELE, EU E MEU PAI.
ELE FELIZ, E EU CONVERSANDO.
DISSE A ELE FRASES QUE O FIZERAM RIR.
FALAMOS DE JOGO, MULHERES, LULA.
ELE ME MANDOU DORMIR, DEPOIS PERGUNTOU SE EU NÃO IRIA TOMAR REMÉDIOS.
TODOS DORMIRAM, MENOS NÓS.
CONVERSAMOS MUITO, NOITE TODA.
ENTRAMOS EM UM DISCUSSÃO IDIOTA ACERCA DE UMA PALAVRA.
CONTEI COISAS SOBRE MIM, ELE ESCUTOU COM SEU JEITO DE ESCUTAR. UM JEITO DE QUE É DELE, SÓ ELE ESCUTA COM O ROSTO.
ELE BÊBADO, EU COM TERNURA.
QUATRO HORAS ELE DIZ QUE VAI DORMIR, EU NÃO FUI.
FIQUEI NA VARANDA, SÓ, COM UM MEDO DANADO.
MUITO MEDO DE UM DIA AQUILO NÃO PODER SE REPETIR.
NA VARANDA DO APARTAMENTO DE MEU PAI EU ME CONTENHO,
ME REFREIO E ME IRRITO COM A VONTADE DE CHORAR.
QUANTAS VEZES NA VIDA FUI TÃO FELIZ?
ELE DISSE QUE GOSTAVA DE MIM PORQUE EU ERA AMOROSO. ISSO ME DEU UM ORGULHO RADIANTE.
NÃO FALAMOS DE LULA, NEM DE NADA OU NINGUÉM. LEMBRO AGORA QUE NEM FALAMOS TANTO. MAS NÃO HAVIA O QUE FALAR. ESTÁVAMOS SÓS, EU, MEU PAI E A VARANDA.
A NINGUÉM ISSO IMPORTA. TUDO É PROSAICO DEMAIS, E EU NÃO SOU MANOEL BANDEIRA NEM RUBEM BRAGA. SOU EU SOMENTE. SOU ORGULHOSO DE COISAS COMO  ESTÁS: ESTAR NA VARANDA COM MEU PAI, DE MADRUGADA, SABER QUE ISSO É O QUE HÁ, NÃO PERDER O FIO CONDUTOR DA VIDA.