sexta-feira, 22 de maio de 2015

MARCELO NOVAES



ANTES DO VERBO



Antes que se soubesse de Deus
o Filho, plenos de dons, fadado a
ser trigo e mais-que-trigo [porque
colhedor de feixes-em-extremos:
trigo e joio, joio e trigo],
antes de poder receber o abraço
do irmão traidor com o perdão no
meio, replantado como tronco, ramo,
galho, ramalhete-em-maio [abril ou
junho], antes das moedas devolvidas
ao antigo dono [poucas, por sinal],
antes do retorno dos Infernos e do
fim dos relacionamentos terrenos
[só aparente, porque – alguns – 
eternos],

antes mesmo do término da safra má e
da má safra, lavrada em água amarga
[crispada de larvas],
Antes do acúmulo do muito que na
vida caberia, aos trinta e poucos [longos
e concisos anos, vasto oceano em Mar da
Galileia],
antes da demonstração do medo
e do não-medo juntos, afrontando a
morte [para ir além, ainda, de qualquer
desejo-de-morte],
quanto mais se precisa dizer o que
não fora dito Antes [porque Antes do Verbo,
ou fora], o vidro se arrastará no vidro e 
arranhará o vidro, até o olho estar 
limpo.
 
 

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Quando Deus quis falar sobre tudo e suas razões, ele fez (e foi antes de feito tudo, foi antes de tudo ser algo) ele fez o silêncio. Se há uma hora que ele de nós se aproxima e quando o silêncio se faz total. O silêncio do perdão, do Cristo na cruz, do juízo final. O silêncio é urgente! chega de urbes e seus moleques mimados; Basta de senhores vetustos, babacas que se supõem sábios. O silêncio é coisa de saber-se usar. Ter na hora certa a palavra mas saber que na hora da palavra é melhor não dizê-la, se calar.

domingo, 17 de maio de 2015

O que fica claro é que regras existem onde pode haver. Se o pt não for extirpado (sim, é um câncer) ele destruirá (câncer que é) o organismo que o nutria. O câncer não pretende nada, não objeta nada, nada mais pode ser. O destino do câncer é matar e com o morto morrer. Extirpar o tumor! Isso inclui exército, justiça, congresso, o que seja. FORA pt! Ainda que à força, ainda que sem anestesia, mesmo com o risco de metástase.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Assim seja!

O que peço a Deus é que me guarde da mediocridade, de ser um idiota e se der, uma melhora de minha doença. Que Deus não me proteja (eu sei que não faz, não fez, não faria) dos medos covardes da morte e do frio. Que possa beijar meu filho na hora em que se encerre a minha. E, se não for abusar, que ele me dê a graça de sempre admirar poesia. Quero, com o que aprendi, e só com o tempo se aprende, a ver nas coisas prosaicas o novo que não se percebia. Porque os olhos é que envelhecem, nunca as árvores e o dia.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

ÓDIO E AMOR

Eu gosto de alguns ódios que tenho. Meus ódios não são amores recalcados ou às avessas. São ódios genuínos e legítimos, tanto como os amores a quem julgue que os mereçam. Gosto de minhas Boas arrogâncias, essas de não baixar a cabeça. Do desprezo pelos soberbos, sendo a soberba da soberba. Saber o amor sem poder o ódio me parece coisa de santo ou idiota. Nos santos é o que há de mais os santificá-los, nos idiotas é o que mais os faz parvos. Não acho tudo lindo, aliás, tudo é muito feio, falso, frágil, mau gerado ou acabado. Tudo esbarra na imperfeição, no vazio, no vago. Por isso posso amar ao lindo tanto mais desgoste o feio. E o médio me desagrada, talvez mais que horrendo, mais que o nefasto. O médio é pior que o nada, muito pior que os excessos, pior que o não revelado. O médio é "ser e estar" sem ter sido nem estado. Não falo de médio em seu pacato e não sermos altos. Ser medíocre com rigores é melhor que o gênio chato. Não confundir as cores, as franjas, os sapatos.

domingo, 5 de abril de 2015

O BEIJO EM MEU PAI



Eu choro. Choro por tudo ou por nada, nunca por mágoa.
Eu creio. Não creio em tudo. Creio no Cristo, pela sua dolorosa paixão.
Eu perco. perco no jogo, perco na vida, mas nunca a esperança.
Eu sonho. Sonho com gatos, peixes, luas e o que podem os sonhos.
Eu grito. Quando dói demais. Um grito pra dentro. Que não precisa ouvidos, que existe pra si só.
Terça fui à Recife e fiz algo que merece ser postado e que todo mundo saiba, embora ache uma babaquice ficar colocando coisas do tipo: estou triste ou feliz ou amando, no facebook. Terça eu dei um beijo em meu pai.
Como está o mundo, como ficará, como as coisas se darão, pouco se me dá. Dei um beijo em meu pai. Isso é tudo. Isso é o que há.

sábado, 4 de abril de 2015

PELÉ, O SOBERBO.




Certa vez Romário falou que Pelé calado era um poeta. Romário acertou na mosca. Perguntado sobre a possibilidade de ser alcançado ou superado por Neymar, ele, com a modéstia que ficaria feia em um Shakespeare, em Newton, em qualquer um, sai-se com essa: mesmo que façam mais gols que eu a fábrica fechou (se referindo aos seus pais) quer dizer: se o cara o superar dentro de campo, não poderá ser melhor pela razão de não ser filho dos pais de Pelé. Pelé é o melhor até o dia que aparecer um que lhe supere. Há sim, a possibilidade real, embora remota, de Neymar vir a superá-lo. Neymar jogará (salvo alguma contusão ou problema de saúde) três copas, uns 14 anos de futebol e já tem um curriculum espetacular. Messi, Cristiano Ronaldo, serão facilmente superados. Romário foi um astro e herói meu, terminou a carreira com 41 anos e 56 gols na seleção. Neymar tem 23 anos e 43 gols na seleção. Tem mais de 200 gols. Se jogar até a idade que Romário jogou passará de 1000 gols.

VASCO DA GAMA


quinta-feira, 19 de março de 2015

O AMOR E A MORTE


















Minha irmã liga e pede para eu baixar umas músicas que tratam direta ou indiretamente  de pai. Minha irmã anda preocupada com a idade de velho. Ele tem saúde e vitalidade incomum para seus quase 70 anos. Ele viverá anos e passará dos cem. Mas o que aflige minha irmã? a morte. Não há amor que não seja isso: medo da morte. Amar é sobretudo temer a morte. Amar e ter medo da morte. Amar é saber que um dia poderá se carregar meu pai. Mas como poderemos ? o peso dele é insuportável, o peso dele é algo que tememos carregar. O peso dele sobre o que ele abrange é devastador. "mas que seu filho eu fiquei seu fã" o verso é bom mas não diz tudo, embora eu saiba que nenhum verso diria tudo sobre o medo de minha irmã de perder meu pai. Não seria perder um pai, seria perder o refúgio que se busca no medo quando se tem com que se proteger. Um dia, se eu tanto viver e ela também, teremos de olhar a vida morta, a vida sem vida, teremos de dizer (aiiiiiiiiii) adeus a seu Luiz. O amor é triste, o amor é crepúsculo, o amor é duro.

A vida é composta de sons e imagens, de outras coisas mais ou menos que ficam na lembrança. A vida é foda!

Tá certo, o velho não é peru, morrerá quando chegar seu dia. Mas e dai? o que assusta é que haverá o dia. Isso corta a alma de minha irmã e a minha. É forte , saudável e poeta, meu velho, mas chegará o dia. O dia em que não acordará como acordaremos? ao não ouvir seus berros que outro som nos fará menos tristes? Onde sentiremos seu cheiro que impregnou tudo? Com quem se consolar que possa sentir  tanto quanto nós?

Então esqueçamos isso, irmã, e celebremos a vida dele. Celebremos a chatice e o estar-certo-sempre. Celebremos os chiliques, celebremos nosso pai. Nosso pai! Façamos o que podemos por ele em vida. O que podemos fazer por ele em vida é isso de agora, dizer que o amamos, amar esse amor desmedido e desprotegido.

O tempo levará ele, você e eu. Não se sabe para que serve o amor. Talvez seja para isso: temer a morte de um pai vivo. Amar tanto um pai que se tem medo de sofrer. Se ele for primeiro que nós, irmã minha, só você sentirá o que sinto, só eu sentirei sua dor. Será como se a vida ficasse mais dura, será como um  buraco negro, será como um deserto em  meio a desertos, só restará "aquela mesa"; só restará "o brilho dos olhos dele"; Só restará a lembrança do jogador mulherengo e responsável. Eu disse "só" mas é muito. Toda a riqueza do mundo não pode com o amor devotado por nós a nosso pai.

O tempo destrói tudo menos o que foi um poeta. No dia que ele for saudade a própria saudade sentira remorso e talvez o nosso choro faça a morte menos fria. Não digo que comova a morte a morte de meu pai, digo que lhe faça perceber (ainda que por fração de segundo) o que é o amor e o que ele pode.