terça-feira, 13 de dezembro de 2011

FELIZ NATAL



















Isso já vem de antes, de mim, de você, e desde o tempo do nada: essas guerras, essas dores, essas mortes , e o  mesquinho das comezinhas coisas, dos recalques, do que chamamos mal, do que dizemos ruim.
Vem perto o natal e nada é  tão igual, nada me parece tão pouco auspicioso como esse dia. Não era para ser assim, por ser  lembrança do nascimento de Jesus, mas é. Embora saiba que não vou mudar o mundo e que eu faço parte dos que o fazem feio e mau, peço por mim e por você que é meu igual.
Peço que saibamos que diferença faz a palavra dita por jesus, das ditas hoje pelos que dizem o seguir. Peço paz, mas tem de começar por mim. Peço mais amor entre nós, mas tem de começar por mim, pela compreensão de que tenho de melhorar muito para reclamar dos outros, e se melhorar muito, serei mais compreensivo com meu vizinho e mais critico de mim. Não posso pedir pelo mundo, peço por mim. Se eu melhorar o meu olhar sobre os diferentes, se me for dada a graça da humildade, o mundo melhora, pois eu sou o mundo.
Um homem não é nada. Um ser sem graça e mal. Mas se pode tornar importante se souber de sua pequenez.


Que 2012 seja bom pra todos.

Para mim: cirurgia.

Para meu pai: tempo.

Para minha irmã mais velha: dinheiro.

Para as mais novas: civilização.

Para lu: mais filho.

Pra Joelma: paixão.

Para a morte: depois.

Para o burro: Jesus.

Para o bom: melhorar.

Para o melhor: perfeição.

Para a poesia: luas.

Para o dia: sóis.

Para a noite: também.

Para o amor: singeleza.

Para  o pecado: arrependimento.

Para arrependimento: perdão.

Para o que for: sentimento.

Para não ir: ficar.

Para o meiguice: gabi.

Para o rio: mar

domingo, 11 de dezembro de 2011

SOBRE AS COISAS QUE SÃO E NÃO SÃO RIO


http://bloguedospoetas.blogspot.com/2011/01/o-cao-sem-plumas-joao-cabral-de-melo.html

gostei dessa imagem de João, embora estivesse em um blog de esquerdistas, cujo link vai acima.









Não precisava estátua dele na margem do rio. É redundante a figura física de João Cabral na rua da aurora. Aurora é uma palavra que João nunca usou em sua arte. Vinícius De Moraes chamou-o diamante. João preferiu o cacto.
João é o Brasil que vislumbro. Um país sofisticado, mas por seus parâmetros de sofisticação. Mas é,  sobretudo, o ideal estético-poético de minha mirada do que seja poesia. E o que é poesia? É o paradoxo do sonho real ou sonho dos racionais. O ideário dessa corrente de gente brega e anacrônica cujo foco é o dinheiro e a macaquice a padrões de estética que não os pertencem, que são legítimos onde criados, mas que não fazem sentido fora do seu ambiente natural se tornando cópias de modo de viver, nunca me pareceu mais que cafonice. João rompe com isso. Lindamente,  a partir de uma poesia que rejeita, não o sentimento, como  os apressadinhos gostam de dizer, mas o uso da emoção para obter resultados. João tinha um jeito de ver o mundo que me  parece ser mais que o olhar de poeta, comum e vulgar. Havia uma verdade em sua poesia, um absurdo real, visto pela alma, sentido pelos olhos. Poeta sem alma?


Seria a água daquele rio
fruta de alguma árvore?
Por que parecia aquela
uma água madura?
Por que sobre ela, sempre,
como que iam pousar moscas?
Aquele rio
saltou alegre em alguma parte?
Foi canção ou fonte
em alguma parte?
Por que então seus olhos
vinham pintados de azul
nos mapas?
(O cão sem plumas, 1949-1950)


JOÃO CABRAL DE  MELO NETO

Isso é coisa escrita por quem não tem alma?

De todas as idiotices ditas para diferenciar a poesia cabralina e as outras, essa se mostra a mais tola.

Quem era Cabral?

Um poeta pernambucano. Ponto. Se tivesse nascido na Bahia não seria baiano? No japão, japonês? Na India, indiano? O que muda o nascimento de uma pessoa em relação ao seu talento criador? Os poetas grandes nasceram todos em Pernambuco?
É incrível como o argumento do idiota encontra variantes que o fazem supor que sua idiotice é pura sensatez. Nascesse na Sibéria, ou mesmo em outra galáxia, seria poeta, seria grande. Mas nunca teria escrito o que escreveu. Ele viu o rio Capibaribe, andou nas pontes de Recife. E quem faz isso, meu camarada, peço que não o faça, para que não se torne um tolo, nem veja a alma em um rio, mas se o fizer, se tocar as alma do poeta sem alma, você é batizado e estará morto para as coisas que não são rio.


Deste tudo que me lembro,
lembro-me bem de que baixava
entre terras de sêde
que das margens me vigiavam.
Rio menino, eu temia
aquela grande sêde de palha,
grande sêde sem fundo
que águas meninas cobiçava.
Por isso é que ao descer
caminho de pedras eu buscava,
que não leito de areia
com suas bôcas multiplicadas.
Leito de pedra abaixo
rio menino eu saltava.
Saltei até encontrar
as terras fêmeas da Mata
JOÃO CABRAL DE MELO NETO

E as coisas que não são rio lhe parecerão menores, prosaicas, ínfimas, mesquinhas. Não, meu amor, não ande no rio depois de conhecer o poeta, nem olhes para mim se eu estiver perto. Minha cara se transfigura quando estou naquela ponte. Uma face que não posso descrever; mas sente a passagem do tempo e das eras; Das  dores da alma  e dos partos; das alegrias bestiais e que só os filhos podem dar; de ter uma super alma dentro de um corpo pequeno, um limitador do infinito.

As coisas que não são rio se tornaram chatas, então faço-as atravessar à margem, e tornarem-se rio, reafirmarem-se, serem rio. Minha cirurgia, as derrotas do vasco , o constatar de minha morte, da morte dos que amo, do inexorável do tempo, sua homicida ampulheta, o amor que não vem, o que se foi, transformo em rio.

Pois que reinaugurando essa criança
pensam os homens
reinaugurar a sua vida
e começar novo caderno,
fresco como o pão do dia;
pois que nestes dias a aventura
parece em ponto de vôo, e parece
que vão enfim poder
explodir suas sementes:
que desta vez não perca esse caderno
sua atração núbil para o dente;
que o entusiasmo conserve vivas
suas molas,
e possa enfim o ferro
comer a ferrugem
o sim comer o não.

JOÃO CABRAL DE MELO NETO

Transformo as coisas em rio para isso: o sim comer o não.

sábado, 10 de dezembro de 2011

CAETANO E GABI










Outro dia, vendo meu filho jogando residente evil, perguntei-lhe por que ele matava um personagem com a faca e não com o revólver. Perguntei por curiosidade boba, não por censura, só achava um tanto quanto suja aquele tipo de morte. A resposta dele para o ato de matar a faca foi incrível; ele disse que matava de faca para economizar balas, pois teria um desafio pela frente. Desafio no vídeo game é um obstáculo que se impõe ao jogador para mudar de fase. Bom, tenho minhas convicções pessoais e dentre elas estão a certeza de que criança não é desprovida de raciocínio, e que discerne entre o bem e o mal. Meu filho é pacífico, não fala palavrão, tira boas notas, ele é o cara.
“O mais ardiloso e dissimulado homem não engana uma criança” a frase é de Tolstoy, não é assim, mas é nesse sentido.
Porra! Ia falar de crianças, de crianças que amo, gabi, com sua boquinha, carinhosa como só ela; bitóia totóia, falsa, ruim, mas amada;  laís, vitória, minha irmã; Pedro; mas Caetano me acabou, me implodiu. Vendo a entrevista dele em Jô Soares, ao escutar a música que ele fez para Gal Costa, tive a convicção reiterada, confirmada por anos de amor e devoção, e porque não? Idolatria e adoração por Caetano Veloso, pensei comigo e tentei dizer a alguém que o som do canto triste de Caetano, me põe de pé. Eu choro ao ver o baiano me mostrar o rumo. Caetano tem de Gabi a doçura explícita, expansiva, natural. Um homem de 70 anos com a doçura de uma criança.
Sempre se fala de Caetano como um ser pervertido, sei lá o quê. Quem diz isso é um idiota. Não merece nota. Mas digo: que seja Gabi sempre  como é. É difícil, é muito difícil. Ser doce em um mundo desses. Um mundo nojento, inviável. Onde todos tem de ser fortes. Eu não sou forte, sou fraco e amo Caetano. Que gabi cresça como é, embora todos irão tentar impedir que ela seja doce sempre. Mas sobretudo a vida. Essa bate tanto na gente, que chego a desconfiar que não perder essa doçura é a única coisa que salva. Ver passar o tempo e ser doce, ser gabi.
Outro dia fui canalha, estúpido, roubei senhas de um cara digno, gente fina. Agi como canalha e não há outro nome. Quando cometemos uma canalhice dá-se o nome que tem o ato de roubar senhas: canalhice. Essa semana gabi ligou, quis falar comigo, eu não estava.  Três dias atrás me viu e mandou um beijo, disse que me amava. Isso é um orgulho que não diminui as minhas canalhices, pois se ela me tem tanto carinho, se  me ama, há algo de bom em mim que não deve mudar.
Caetano cantou a música que  me dilacerou. Salve Caetano, salve  a doçura de gabi, que ela chegue aos 70 anos como Caetano. É o meu ideal e o que desejo aos que amo.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O RIO NUNCA SECA








O vasco não foi campeão. Estava com meu filho ao meu lado, meu sobrinho, duas tvs na sala e muita torcida. Mas o vasco não foi campeão. O jogo acabou, saí da sala, pitocudo ficou vendo o que queria, mas não houve o grito de campeão. Meu pai ligou,  disse que torceu mas infelizmente não deu.
Não fomos campeões, isso sei, mas somos vascaínos, ainda  e sempre, vascaínos.

Millôr Fernandes tem uma frase genial sobre isso. Ei-la:  “vitória é aquela vez em que não perdemos”. Vamos perder sempre mais do que ganhar durante toda vida. Amores, saúde, tudo. Mas há um jeito de nunca perder, ou por outra, sempre ganhar; e te ensino, e te mostro, sou bonzinho. Lá vai:

Quando teu “vasco” perder, ou você descobrir que existem milhões de seres mais capazes que você, ou mais bonitos, ou mais o que seja, olhe pra dentro e procure algo bom. Não por vaidade ou soberba, mas pelo mero prazer de saber que tem limites e que é sabedor deles e que pode tentar superá-los. Há uma virtude na luta que é estar lutando, estar nela, dentro dela, de todo corpo, de toda alma.
O vasco perdeu, é certo. Eu torci muito pelo contrário, mas não deu. Saí da sala triste, meu filho notou. Não chorei, mas não tinha motivos para rir. Ninguém se alegra na derrota, mas há os que não sabem perder.
Eu disse a pitocudo, não com palavras, com gestos, disse-o: 

A PAIXÃO ACABOU?

NÃO!

SOMOS VASCAÍNOS.

A RIO NUNCA SECA.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

EU SOU A ALEGRIA, SEMPRE.









Eu sou a alegria, só sei estar assim, só sei de mim sorrindo, só sei sofrer assim.


Não há paradoxo em sofrer sorrindo, é mais de ser em mim (o riso) oxímoro do oxímoro.

Não rio da derrota, nem rio da desgraça, mas folgo de saber que dores vem e passam.

Só o que fica em mim é isso, essa alegria perene. Uma alegria de amor pelo sorriso de irene.

O sorriso de Irene que despertou no meio da dor um refúgio, um consôlo, um pausa.

Eu sou a alegria e sou mais pela manhã. Por renovada, por matutina, por ter mais brilho, auspiciosa, límpida, perfeita. Ao invés de me excluir porque não volta, me aceita.



Se o Vasco perder domingo, se eu não ficar rico, se tudo embaçar, entorpecer, se turvar. Se o que eu temia acontecer, se o que eu sonhava malograr, se eu me ver sem você, se o crepúsculo dobrar, se o que houver for negrume onde clarinho eu queria, se esquecer de ser alegre e entristecer um dia, sabendo-me triste, sabendo-me só, meu amor, me ligue, liga, amor pra mim, e diz: você é alegria porque está assim?

Talvez argumente que a dor me alcançou, que o peso do tempo, do parkinson, da luas e das pontes pesaram sobre mim. então me lembre o que me fazia chorar e sempre fará. Então, lembrando das pontes, das luas, do Vasco, dos gatos, de sua prece para Maria, dos retirantes de João Cabral, e para o meu filho, para o céu; e lembrando tanta coisa que me fez chorar, eu volte ao que sou.

Porque sou a alegria, não posso te faltar. No teu dia-a-dia, na luz do teu olhar.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

SOU A ALEGRIA




















Como se fosse estranho a mim,


mas que eu tivesse sempre e nunca acostumasse. Estranhava a novidade do já sabido, do já sonhado e sempre realizado.

Encantar-me pelo que conheço e sei-o meu, amar o que eu tive- tenho como se meu não fosse, como se precisasse.



Ter-me como sou, nunca o que sonhas-te. haverei de sempre ser o que sou: um bom vagabundo, um ateu chorão em busca de Deus.



Agora ria, ria e me mostre que ainda semeio sorrisos, que te faço bem.



Preciso mostrar a quantos possa que o fim não pode ser triste, que é preciso sorrir até o último segundo da vida. Morrer é ruim, é duro é triste, mas não será hoje, então maravilha!

Não é tirar leite de pedra, é um saber que o chorar não te fará eterno, nem sorrir. Sorriremos então, e que seja este o nosso fim.

Mas não será hoje, nunca será hoje, sempre será depois o que for dor. Alegria é para agora, pra já.

Sou a alegria, vim te acordar. Acorda com meu beijo, acorda com minha voz. Me prende no teu riso, estreita nossos nós.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

DE NOVO (SEMPRE) MEU PAI













Não, não é pelo dinheiro do táxi, que até sobraria. É por ir três dias comigo à secretaria de saúde, quase perdendo a hora, mas não tão apressado para me dar o dinheiro apenas, como se dando o dinheiro do táxi fizesse seu papel. Ele é o cara que dá o dinheiro do táxi, está atrasado para uma audiência, mas não tanto para me levar à porta, abrí-la e me abençoar.


Sempre falo dele no aniversário dele com textos bregas e esse é assim. Não é aniversário dele, nem há razão para o drama, mas quem tem um pai como eu, tem de amá-lo com medo.

O velho está inteiraço mas tenho medo de perdê-lo. Com meus trinta e seis anos tenho medo de ficar sem meu pai.

Mas não é pelo dinheiro do táxi, eu até posso andar de ônibus e ando. É que ele dá o dinheiro mas não se contenta em ser pai normal, de ter ido comigo, de estar atrasado, de ser pai só. Ele me coloca no táxi, me abençoa, me recomenda juízo, liga para saber se já cheguei, chega na hora precisa da audiência, mas sobretudo, e acima de tudo, tem um olhar de amor. Não de comiserasão, nem de lamentação, ele sabe que eu odiaria isso, mas amor não odeio.

Eu falo de meu pai sempre que eu quiser, e sempre quero, sempre falo. Não me importa se é chato ou se não é, escrevo pra ninguém, para o vazio que vão dar todos os sentimentos. Na minha vida tudo são fases, como já disse o Assis, sei perder no primeiro tempo e esperar o segundo, sou vascaíno, porra, e quem tem esse time sabe o que eu falo. Espero uma virada, um melhorar no segundo tempo, mesmo que eu perca, espero o segundo tempo. O meu segundo tempo ainda não chegou. Mas se eu perder meu pai (não sei porque diabos isso agora) eu vou estar na derrota, só, triste.

Neguinha, poucas coisas me abalam, sou forte e tenaz, precisei de teu colo, mulher que eu amo, foi bom, acabou, mas sigo em paz. Minha musa querida, perdi você e sigo rindo, perdi a saúde e sigo bravo, perdi muito e ganhei muito, e nessa diferença sou mais eu. Mas, bela flor, voz que amo (hum ?) no dia em que eu estiver sem aquele homem no mundo, não terá colo de musa que me conforte.

Eu amo meu velho cada dia mais e até seu xingamentos me parecem divinos.

Amo-o não pelo dinheiro do táxi, sempre me deu e nunca contado. Amo-o pelo desvelo de quem sabe-me adulto, sabe-me forte, sabe-se amado.

domingo, 27 de novembro de 2011

PUTA QUE O PARIU!


O VASCO É O TIME DA VIRADA.
O VASCO É  O TIME DO AMOR!



]


A VOZ, O HUMOR, A PAIXÃO.









Eu não sou muito de acreditar.


Se duvido até de Deus, porque iria crer em você?

Nada pode ser mais óbvio que a força de um criador, pelos mares, por uns mil outros motivos mais.

Mas tenho a dúvida comigo, entranhada como uma víscera.

Veja só, veja bem, meu bem, tudo indica uma criação, a perfeição das galáxias, eu existir, a percepção. Mas ainda assim duvido, e pergunto à sua pretensão: porque não duvidaria de ti, minha cara, por qual estranha razão?

A poesia, meu filho, coisas sentimentais, tudo remete ao divino, a um criador. Mas não raro duvido, não raro interrogo, não raro fraquejo. Que razão podes ter, afetada criatura, para que eu me fie em ti?

Se Deus não existisse seria uma mentira muitíssimo bem contada, em que sábios cairam e ateus não cairam por sorte.

Mas você, francamente...

Só caem nessa os otários.

Qual a razão do paralelo entre as crenças?

Simples, se quiser faço um desenho, como o tio Rei. É que crer em uma verdade é fácil, é óbvio, e a tudo leva à razão.

Mas você não é verdade, não é nada, não foi nada, é pura empulhação.

Você não cabe em mim, pelo seus defeitos torpes, suas mesquinharias. Eu não caibo em você porque sou amplo, inteiro.

Calma, calma ai. Também tenho meus defeitos, tantos quanto os teus, talvez maiores, isso é com Deus. Mas não quero-os qualidades, reconheço o que são.

Não debuto em mentiras, não me escondo na razão. Dou o nome ao que são. Numa missa ore a Cristo, numa orgia chame o cão.

Mas não chame a quem não vai. Quando estiver vazia, chame quem lhe aprouver ou vá a uma igreja. Só não conte comigo, não me faça menção, não se lembre da voz, o humor, a paixão.