quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

SHAKESPEARE E OS GATOS QUE NÃO FALEI.







A net caiu, então escrevo. Não tenho muito a dizer, aliás, não tenho nada. Por essa razão fiz um blog: para falar de mim e do que acho do mundo, já que ninguém me pergunta. Os blogs são chatos e pretensiosos, é coisa para gente como eu. Mas não tendo assunto, nem o que fazer, falo dos gatos e talvez de Shakespeare. Primeiro o bardo. Estou lendo um livro que ganhei que fala sobre  um ano na vida do bardo de Stratford. Não tenho amor por Shakespeare, tenho curiosidade. Amor eu tenho pelo Rosa, por João Cabral, por Dostoievski, e outros que me parecem mais normais (e o são) que o autor de Hamlet. Sem espichar no mesmo lenga-lenga dos elogios ou  na real autoria das peças, repito: tenho por Shakespeare uma curiosidade quase mística-ateia; Não faço pouco esforço para não ficar impressionado com o que foi escrito por ele mas não tem jeito... Sem babações, quem pode apontar quem o rivalize em intelecto na literatura? Qual personagem literário se aproxima em inteligência e Capacidade cognitiva e de expressar isso,  como Hamlet? Quem tem a profundidade que tem o raciocínio de Shakespeare? A negação disso é impossível! Quem vai me apresentar o que perguntei acima como resposta? A essa eu respondo: ninguém! Porque não há. Stravoguim, de Dostoievski, era tratado como gênio mas quase não falava. Ivan, dos “Irmãos Karamazov”, era tido como um gênio, mas vê-se ao fim que era um tolo. Zaratustra era Nietzsche falando: era poético, era belo, mas oco. Os grandes sábios da literatura são mudos. Os outros personagens é que lhe consideram gênio. Hamlet não. Ele fala que é uma beleza. Fala o tempo todo e com solilóquios estupendos e devastadores. A cada vez que Hamlet fala se agiganta o talento verbal e argumentativo dele. Tá bom , eu não ia cair no puxa-saquismo, eu sei...Mas como falar de arte e criação literária, inteligência e intelecto sem bajular Shakespeare?
E a net não chega....
Harold Bloom, diz que os livros de Shakespeare podem ser denominados de o livro do conhecimento. Há  como discordar disso? Quem  conheceu a alma e lama humana, suas paixões, seus medos, seus recalques, sua exuberância, seu profundo e raso, quanto William Shakespeare? Não se trata de um gosto literário, nem impor um autor aos demais. Se trata de constatar o óbvio. As vezes vejo artigos ou ensaios que se referem a Shakespeare como “o maior escritor Inglês”  ou “um dos maiores dramaturgos de todos os tempos”, ou merdas que se parecem com isso e que escondem uma intenção: a de mostrar-se culto e isento, dando assim maior status ao que ensaísta ou jornalista cultural, ou quem quer que seja. Fica a pergunta aos tais isentos: Se ele era o maior autor Inglês não poderia ser o melhor de todos porque a Inglaterra não é o mundo. Quem então foi maior que Shakespeare na questão literária?
Dostoievski? Gênio um pouco subestimado em nosso tempo por sua popularidade, mas foi devoto do bardo e não lhe lambe os pés.
Tólstoi? Gênio, como seu compatriota de acima, porém superestimado, ao contrário de Dostoievski. Qual de suas espetaculares obras se comparam as de Shakespeare? Nenhuma! Ana karenina consome um longo Romance para dizer imensamente menos que Rosalinda; Lady mackbet, Pórcia e várias outras.
Balzac? A prolixidade balzaquiana (atingida a maturidade literária) é aceitável e o faz um dos grandes dos literatas de todos os tempos, mas um personagem Shakespeariano de terceiro escalão humilharia “o tio Goriot” inteiro. Aliás, se for se comparar o nível dos intelectos dos personagens criados por Shakespeare com os demais autores, torna a comparação muito mais humilhante, porque qualquer personagem criado pelo bardo, pensa e tem uma linguagem superior ao um esteta de qualquer autor, de qualquer tempo.
Fiz a comparação entre romancistas e Shakespeare por ter lido mais romance que teatro, e se em outro gênero ele não tem quem lhe faça sombra, quem dirá no seu.
Não vejo nada, mas rigorosamente nada, em Freud, que não seja encontrado em Shakespeare e em linguagem simplificada. Nem vou diz. Nem vou dizer que Shakespeare foi o pai da psicologia, do auto-conhecimento, da introspecção, por razões claras: se ele não foi o criador da psicologia e afins, ninguém o fez melhor do que ele em tempo algum.
Se comparar ele com os filósofos é como empurrar bêbado de ladeira e bater em defunto. Shakespeare contém  condensação melhorada de toda a filosofia e os filósofos todos (até os gregos) não o contém.
Grandes poetas como Fernando Pessoa, Baudelaire, Camões (que não li) elevam o nível do pensamento posto em linguagem na tentativa de recriar a realidade, ou de torná-la mais suportável. Shakespeare escreveu os tais sonetos que eram ele em estado puro e metrificado, então sempre que se pensar em poesia e nos grandes poetas, esqueça-se  Shakespeare ou não o convide para a festa, ele estragaria ela com seus devastadores poemas.
Ninguém é acima ou pós Shakespeare. Ele é ainda o topo do pensamento humano. Nossa! Eu disse que não ia babar...
Goethe? Esse tinha uma linguagem próxima (não igual) e um densidade (não igual) admirável. Fausto é um livro gigantesco. Mas o personagem maior de Goethe, busca conhecimento e o de Shakespeare, distribui. justiça se lhe faça, o personagem sábio de Goethe existe, é Mefistófelis, mas sua sabedoria é disfarçada, pouco atrevida, escondida atrás do sobrenatural (ele é o diabo) Goethe foi um Gênio dentre os gênios, mas Shakespeare ainda foi superior.

A linguagem de Shakespeare era sobrenatural, seus argumentos, seus pontos de vista dos lados de uma mesma questão (vide o discurso de Brutus e a fala de Shilock) a capacidade de ver as coisas por um ângulo e por outro, as vezes vários e conseguindo convencer por todos, faz dele o maior intelecto que se pode admirar. Ainda há os que defendem a autoria de outro cara sobre as peças de Shakespeare, o que é uma tolice sem e medida dos que nunca leram nada sobre o agita-lança. E há imbecis que vão além, dizem que foi de vários autores as peças atribuídas ao bardo. Incrível! Não havia um só Shakespeare, mas um monte deles numa mesma época!
Quando digo conhecimento e intelecto não me refiro a razão,  claro. Razão você pode encontrar num analfabeto,  conhecimento é diferente der razão. Razão é uma escolha feita por quem conhece, e para conhecer há um caminho mais curto que toda uma vida, há os livros de Shakespeare.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

FELIZ ANO NOVO (DE NOVO)




Aos que são de minha afeição e aos que nem tanto; aos vascaínos e os que tem mau gosto; aos de qualquer religião e aos ateus; aos machões, aos veados e outros como eu; aos poetas, matemáticos e os que gostam do que detesto; aos que votaram em Dilma, aos de Aécio, ou não votaram em ninguém; aos que não são assassinos; aos que gostam de bicho, aos que só gostam de gatos, e aos que não o suportam mas nunca os maltratam; a todas a grávidas e a Jack Cordeiro e Luluzinha, em especial; aos dos hospitais; aos do que choram de alegria, de tristeza, a aos que não choram; aos que estão no fim, no começo ou no meio da vida, viagem ou qualquer coisa; aos que foram até o fim ou desistiram; aos fortes, aos fracos, aos nem tanto à terra nem tanto ao mar; aos que otimistas, aos que tudo acham que vai malograr; aos que sempre estão certos, aos que nunca acertam ( sei que nem um nem outro os há); aos que de noite, aos de dia, aos que trocam um pelo outro; aos envergonhados, aos desavergonhados; aos que bebem, aos que fumam, aos que vegetarianos; aos assépticos, aos sinceros; aos fingidos e tantos outros e todos outros que não infligiram dores insuportáveis e que danos que não possam suportar, vai aqui meu abraço e voto de FELIZ ANO NOVO!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

SER HOMEM

Ser macho não é o que pretendi ou pretendo ou queira um dia. Quero a doçura das mães em meus gestos com outros homens. Homens não são meus inimigos, são meus iguais. Homens são bonitos de se ver. Homens não são o  contrário de mulher. Homem é o que é. Não há que ser macho, há  que ser humano. Não se afirmar pela força; sendo frágil porque gente, sendo falho por humano. Chora o homem sem vergonha e até que o mundo lhe pese chorará. Homem que de fato é merecedor de ser pai e de ser homem sabe que a força que tem não está nos braços, está nos laços, nos que conquista pelo afeto, pelo amor, pelo abraço.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

MARILIZ E AS DESIMPORTÂNCIAS







Eu penso demais. Claro que a imensa maioria das vezes é bobagem sem importância, mas o que é a vida senão isso: desimportâncias? E menos me interessa o neologismo (essa boçalidade que o que se pretende culto inventa quando não sabe se existe em dicionário uma palavra) do que seu signo. A vida é feita de desimportâncias. A vida é feita de passar pano na casa. Quase todo dia passo pano na casa e só raramente leio Shakespeare. Francamente, muito mais útil uma casa com cheiro de desinfetante vagabundo que a leitura do bardo. Com o bardo aprendi que o conhecimento é inútil; em passar pano na casa aprendi o que já sabia: que amo minha irmã. Como boa piniqueira que sou (piniqueira não é neologismo. A palavra existe por demais e se você não conhece e por não ter vindo a Pernambuco) gosto de passar pano na casa escutando música, então: Maria Bethânia. Bethânia chama ao palco Carlos Lira, um gigante da MPB, eu lembro-me de minha querida irmã, Mariliz, que não lembra em nada bossa nova. Mariliz fez uma grande coisa na vida: xingou Carlos Lira. Carlinhos é um ícone da MPB, e isso não é pouco, isso é muito. Não é todo dia que se pode xingar um gênio, nem todo mundo pode, e dirá, um apressado, que os que xingam gênios merecem o desprezo não o afeto; concordo, mas ela tinha poucos anos de vida, era uma criança, e xingamento de criança é charmoso. Eu poderia ser ácido e dizer que minha irmã mais velha e já avó (o tempo é foda! Há trinta anos, apenas isso, ela ainda escrevia cartas para o “balão mágico” e explicava que não colocaria selo por não ter dinheiro e eu... bom, eu fazia o que sempre fiz: nada ou alguma besteira) que o gosto musical de minha irmã é ruim. Seria injusto com as palavras porque ela não tem gosto musical ruim, é péssimo mesmo.
André, meu compadre veio aqui em casa e me disse algo  sobre minha irmã que eu sentia mas não me vinha em palavras, só em idéias, como o filme do Glauber na fala de Caetano.
Ele me disse que Mariliz era muito protetora comigo, que percebia no jeito dela falar. 
Vendo Carlos Lira, lembrando que minha irmã o chamou de cachorro (ele estudava na mesma universidade que meu pai (sim, meu pai já foi amigo de Carlos Lira, que, segundo Caetano, é uma de suas maiores influências musicais) Lembrando das merdas que já fiz, consterno-me pelo seu amor, por termos devoção por nosso pai, por sermos uma família pequena e dispersa, mas que se ama e perdoa.
Chega! Senão descambo para a breguice quando posso dizer mais simples que sou agradecido pelo perdão, pelo amor, pela paciência.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

MARCELO NOVAES





Marcelo Novaes
Diáfanos

O ruído da capa sendo
esticada, do papel dobrado
[do motor ligado da manhã
à noite], do jorro d'água [do
ar gemendo o tempo todo à
sua volta].

O som do amor à
pátria [e mais, do
amor ao filho sórdido,
que é sempre amor
mais forte, porque faz
sombra e dói como o
som da chuva no
penhasco].

Os sons quase sem
som [à feição de um
rosto que se
esconde].

Sons diáfanos
e ininterruptos,
que estão dispostos
a te esperar quando
você chega à noite [e
espreitam mesmo
enquanto você
dorme].

Todos esses sons,
inúmeros sons [em números
ímpares, porque no fim de tudo
sempre sobra
um],

são sons que nem os céus,
nem o fogo nem o frio [nem
o mar] consomem.

Marcelo Novaes

terça-feira, 18 de novembro de 2014

SONIA







Ela não pediu e eu não tinha que oferecer, mas disse que lhe faria um poema. Não disse-lhe que bom, não poderia fazê-lo, mas saiba-o sincero, saiba-o meu inteiro.
Resta a quem não tem o dom de dizer bonito, o dizer sincero.
Resta a quem não pode o diamante, oferecer o que lhe cabe.
Ela é o que eu não poderia ser; por ser mole, frouxo, por ter medo de seringas e hospitais.
Trabalha tentando curar, diminuir dores, suturar, aferir pressões, olhar no olho dos que tem tumores e não chorar.  Não creio que ela seja de cristal e paire acima das pequenas e comezinhas mesquinharias da vida. Ela é só ela. Não é pouco! Tem coisas que uma mulher tem das quais não se deve falar sem prudência;  coisas tais que embasbacam, embotam o  bom senso.  Se eu disser que eu não amei a minha tão recente e pouco conhecida amiga serei omisso.
Ela me faz lembrar João Cabral e isso é um perigo. Com o respeito devido ao gênio pernambucano e amado por mim, farei uma tentativa canhestra de imitá-lo (aos que se apaixonam é dado o direito ao ridículo) no nascimento do filho do carpina, os personagens do poema do João falam da formosura de uma criança recém nascida; eu falo dela, e peço licença:

De sua formosura deixa-me que diga: é beleza como deve ser beleza de mulher, feminina, escancarada,  que inerva, que faz do mais sábio um palerma e dos palermas desperta instintos. É um beleza que tem gosto, em que há prazer em se gostar. O gosto pelo que se olha, da fome que se tem ao olhar.

De sua poesia eu digo que não se pode conter, diminuir ou abafar; Ela se mostra por si mesma, está onde ela está.
De sua gostosura, deixa-me que conte: ela é coisa que se mostra gostosa sem se provar. Que vendo já sabemos onde a delícia esta. Como se sabe gostosa uma torta de morango não comida, uma fruta madura que se sabe doce, uma coisa que de antemão você senti o prazer das coisas gostosas.
Eu conheço quase nada essa menina. Ela é um mistério, ela é minha amiga. Já digo que é minha amiga mesmo que talvez ela assim não considere ou me queira; digo que é minha amiga, e que só não o será se não quiser ou se eu a aborrecer. Iremos brigar como todos os amigos brigam. Talvez eu lhe faça raiva, talvez nada seja amizade. Mas nunca me arrependo de minhas amigas, mesmo as que se afastam, mesmo as que me tem rancor. Sou poeta ruim e ser humano em tentativa de crescer. Muita besteira na minha vida, muito a me arrepender;
Para terminar devo dizer que ela se chama Sônia e isso me faz lembrar de Dostoievski. Sônia tem seus pés beijados por Ralskonikov e pedi-lhe que pare de fazer isso e se levante. Ele lhe diz: -Não beijei os seus pés, beijei todo o sofrimento humano.

Isso é de um beleza brega e pungente. Sônia, minha amiga, é sofisticada e linda, como uma canção de Jobim, como uma canção de Gonzaga, como o rio capibaribe, como o espaço e seu nada. Como o pulsar dos amores, como o meu pai traçando baralho, como uma missa católica, como o Rosa dos sertões, como o olhar de Ricardo para Falstaff, como um clarão no breu, como se o bom se achegasse. Como chuva e cheiro dela, como o riso escancarado, como o talvez que vira fato, como o fato mudado, como a coisa que é bela sem porquês, sem razões; as coisas que são lindas porque são, são lindas por fado.